OPINIÃO: DREX, o que é? Como funciona? Como ele vai impactar sua vida?

Foto: Divulgação

Em 3 de janeiro de 2010, Satoshi Nakamoto, criador do Bitcoin, publicou um artigo em que detalhava os princípios de funcionamento de um dinheiro digital e um sistema de pagamentos online que funcionaria de forma completamente descentralizada e independente de um governo emissor e de um banco central. Esse artigo foi o ponto de partida para o Bitcoin. Ao longo dos anos, a moeda foi apontada como irrelevante, depois como golpe de pirâmide. Muitos especularam que ele desapareceria em 10 anos. Mas, não. Não desapareceu.

Pelo contrário, hoje o conceito de criptomoedas se provou que veio para ficar. O Bitcoin já é a moeda oficial de El Salvador e já é amplamente aceito como meio de pagamento em muitas regiões pobres, como na Nigéria. E hoje até mesmo os governos se mostraram interessados nele. Algumas das principais econômicas do mundo, como Brasil, Estados Unidos e China, discutem a criação de suas próprias CBDC (moedas digitais de bancos centrais).

No Brasil, já existe o esqueleto para a existência de uma CBDC brasileira, que é o Pix. Desde que foi lançado, o sistema de pagamentos criado pelo Banco Central do Brasil se tornou um verdadeiro sucesso. Ao substituir o Ted e o Doc por um método gratuito e bem mais rápido, o Pix reduziu sensivelmente até mesmo o uso de dinheiro em espécie. Antigamente, ainda que a maior parte de suas compras fossem feitas com cartão de crédito, muitas pessoas mantinham o hábito de carregar dinheiro em espécie para pagar pequenas despesas do dia a dia. Mas, hoje, até mesmo os vendedores de rua recebem Pix.

O Pix já atende a dois objetivos de Satoshi Nakamoto: ele é um dinheiro digital e um sistema de pagamentos. Mas, o que falta para que o Pix seja considerado uma verdadeira moeda digital de banco central? E, uma vez completado esse objetivo, o que o diferencia do Bitcoin proposto por Satoshi Nakamoto?

A resposta da primeira pergunta é: a eliminação completa do dinheiro físico. E essa tem sido a curiosa tarefa de diversos governos pelo mundo inteiro: Cuba recentemente impôs um limite de saques diários de 20 dólares às empresas; na Nigéria, o limite é de 45 dólares e se estende para os cidadãos; em alguns países, para resgatar dinheiro físico, só com justificativas plausíveis (no Brasil o limite é de R$ 50.000).

Pense bem: se você já tem o Pix, para que você precisa andar com notas de dinheiro físico em espécie? Dinheiro físico é mais inseguro, você está sujeito a ser roubado, a perder, não é mesmo? Além disso, o dinheiro em espécie é amplamente utilizado por criminosos, pois facilita a lavagem de dinheiro.

São pretextos como esse que os governos utilizam para convencer a população de que não há problemas em usar o dinheiro completamente eletrônico. Porém, a realidade é que o dinheiro digital confere ao governo um poder de controle muito mais amplo sobre seus cidadãos do que o dinheiro físico.

Quando você faz compras no cartão de crédito, elas são registradas no seu CPF. O governo sabe o que você compra. E, da mesma forma, deverá funcionar com o DREX.

Agora, imagine o cenário. Uma pessoa gastadora gasta todos os anos mais do que o que consegue arrecadar. O que aconteceria com ela? Rapidamente faliria, não é verdade?

Mas, e se ela fosse um governo? Um governo não vai falir, porque gastou mais do que o que arrecadou. Nesse caso, o governo sempre cria novas unidades de DREX e deposita na sua própria conta para cobrir suas despesas. E, pela lei da oferta e da demanda, quanto mais DREX existe, menos ela vale. Então, assim o governo desvaloriza o seu dinheiro.

O que impede o governo brasileiro de gerar déficits assombrosos todos os anos e simplesmente criar novos reais? Hoje em dia, é o fato de que as pessoas reagem rapidamente à desvalorização do real: elas vendem reais e compram dólares (ou outra moeda forte) para se proteger. Um patrimônio dolarizado é imune à inflação brasileira.

Alguns países, como a Argentina, tiveram uma sacada brilhante para evitar esse “problema”: criaram o limite de 200 dólares mensais, que é o máximo de moeda estrangeira que um cidadão argentino pode comprar.

Mas, os argentinos encontraram no mercado negro a forma de dolarizar seu patrimônio. Andando pelas ruas da Calle Florida em Buenos Aires, não faltam os “arbolitos”, que gritam: “câmbio, câmbio”. Eles oferecem aos cidadãos argentinos a possibilidade de comprar o dólar blue, que é simplesmente notas de dólar vendidas em troca de pesos argentinos em espécie. No momento em que eu escrevia esse artigo, a cotação oficial do Banco de la Nación era de 1 dólar igual a 400 pesos argentinos; nas ruas, os arbolitos vendem 1 dólar por 850 pesos. E não faltam argentinos para comprar: mais vale pagar mais caro pelo dólar que mantê-lo em uma moeda que já se desvalorizou pela metade em menos de 1 ano.

Se a Argentina já tivesse adotado o DREX, porém, essa solução não seria mais possível. Com todas as suas transações sendo rastreadas pelo governo, ele poderia impor efetivamente o seu rígido controle de câmbio, e todos os cidadãos estariam à mercê da desvalorização do peso argentino.

Quem tem pena dos nossos hermanos pela sua situação econômica precisa recordar que tais eventos já foram comuns no Brasil: vivemos hiperinflação, confisco de poupança. E, em todos esses cenários, o dinheiro em espécie foi a proteção. Até mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff apresentou R$150 mil em espécie na sua declaração de imposto de renda antes das eleições de 2014. Segundo ela, por ter vivido crises econômicas, ela já aprendeu a ver as notas de reais como uma segurança maior que deixar seu dinheiro no banco.

Se o Brasil adotasse o DREX, realmente você não precisaria de dinheiro em espécie para fazer suas transações do dia a dia. Mas, estaria à mercê das políticas econômicas do governo e nada poderia fazer para proteger seu patrimônio num cenário de hiperinflação e controle de câmbio.

A possibilidade de usar dinheiro em espécie não deve ser vista simplesmente como uma forma de resolver problemas do dia-a-dia, mas também como uma forma de proteger seu patrimônio de políticas cambiais heterodoxas que poderiam ser implementadas mais uma vez em território tupiniquim.

Não precisar de dinheiro em espécie no dia-a-dia não pode ser visto como uma razão para abolir essa modalidade de divisas. O combate ao crime também não pode ser usado como pretexto para deixar os cidadãos de bem presos nas mãos do governo ao sabor de suas políticas econômicas.

E aqui aprendemos a principal diferença entre as moedas digitais de bancos centrais, como o DREX, e as criptomoedas, como o Bitcoin.

O Pix realmente atende a dois objetivos de Satoshi Nakamoto, mas não atende a um deles, que talvez seja o mais importante: a descentralização e a total independência de um governo e um banco central emissor.

O Pix realmente já funciona como um maravilhoso sistema de pagamentos rápido e gratuito. Porém, sua evolução ao DREX pode se tornar um grande problema: o aumento do controle estatal sobre a moeda. É justamente o oposto do que acontece no Bitcoin.

Em vez de um único banco central, existem 11 mil nós espalhados por todo o mundo que são responsáveis pela validação das transações. No Bitcoin, a emissão de novas unidades acontece somente de acordo com as regras previstas pelo código do protocolo, e elas são totalmente públicas. Não existe uma forma de burlar essas regras a não ser que você consiga enganar pelo menos a metade dos nós da rede. E a grande magia: qualquer pessoa pode ser um auditor do Bitcoin. A contabilidade da criptomoeda está aberta e pública, e qualquer um pode auditar.

O Bitcoin elimina a necessidade de confiança. Você pode usá-lo, mesmo que não confie em ninguém na rede, porque, em última análise, tudo é público e tudo pode ser verificado. Por outro lado, o DREX reforça a necessidade de confiança. Viver sem dinheiro em espécie funcionaria bem, se o governo mantivesse uma política econômica saudável. Mas, será mesmo que podemos confiar que as crises econômicas do Brasil foram enterradas em 1994, com a criação do real? Quantas vezes, o Brasil quebrou essa confiança?

Pelo contrário, hoje o conceito de criptomoedas se provou que veio para ficar. O Bitcoin já é a moeda oficial de El Salvador e já é amplamente aceito como meio de pagamento em muitas regiões pobres, como na Nigéria. E hoje até mesmo os governos se mostraram interessados nele. Algumas das principais econômicas do mundo, como Brasil, Estados Unidos e China, discutem a criação de suas próprias CBDC (moedas digitais de bancos centrais).

No Brasil, já existe o esqueleto para a existência de uma CBDC brasileira, que é o Pix. Desde que foi lançado, o sistema de pagamentos criado pelo Banco Central do Brasil se tornou um verdadeiro sucesso. Ao substituir o Ted e o Doc por um método gratuito e bem mais rápido, o Pix reduziu sensivelmente até mesmo o uso de dinheiro em espécie. Antigamente, ainda que a maior parte de suas compras fossem feitas com cartão de crédito, muitas pessoas mantinham o hábito de carregar dinheiro em espécie para pagar pequenas despesas do dia a dia. Mas, hoje, até mesmo os vendedores de rua recebem Pix.

O Pix já atende a dois objetivos de Satoshi Nakamoto: ele é um dinheiro digital e um sistema de pagamentos. Mas, o que falta para que o Pix seja considerado uma verdadeira moeda digital de banco central? E, uma vez completado esse objetivo, o que o diferencia do Bitcoin proposto por Satoshi Nakamoto?

A resposta da primeira pergunta é: a eliminação completa do dinheiro físico. E essa tem sido a curiosa tarefa de diversos governos pelo mundo inteiro: Cuba recentemente impôs um limite de saques diários de 20 dólares às empresas; na Nigéria, o limite é de 45 dólares e se estende para os cidadãos; em alguns países, para resgatar dinheiro físico, só com justificativas plausíveis (no Brasil o limite é de R$ 50.000).

Pense bem: se você já tem o Pix, para que você precisa andar com notas de dinheiro físico em espécie? Dinheiro físico é mais inseguro, você está sujeito a ser roubado, a perder, não é mesmo? Além disso, o dinheiro em espécie é amplamente utilizado por criminosos, pois facilita a lavagem de dinheiro.

São pretextos como esse que os governos utilizam para convencer a população de que não há problemas em usar o dinheiro completamente eletrônico. Porém, a realidade é que o dinheiro digital confere ao governo um poder de controle muito mais amplo sobre seus cidadãos do que o dinheiro físico.

Quando você faz compras no cartão de crédito, elas são registradas no seu CPF. O governo sabe o que você compra. E, da mesma forma, deverá funcionar com o DREX.

Agora, imagine o cenário. Uma pessoa gastadora gasta todos os anos mais do que o que consegue arrecadar. O que aconteceria com ela? Rapidamente faliria, não é verdade?

Mas, e se ela fosse um governo? Um governo não vai falir, porque gastou mais do que o que arrecadou. Nesse caso, o governo sempre cria novas unidades de DREX e deposita na sua própria conta para cobrir suas despesas. E, pela lei da oferta e da demanda, quanto mais DREX existe, menos ela vale. Então, assim o governo desvaloriza o seu dinheiro.

O que impede o governo brasileiro de gerar déficits assombrosos todos os anos e simplesmente criar novos reais? Hoje em dia, é o fato de que as pessoas reagem rapidamente à desvalorização do real: elas vendem reais e compram dólares (ou outra moeda forte) para se proteger. Um patrimônio dolarizado é imune à inflação brasileira.

Alguns países, como a Argentina, tiveram uma sacada brilhante para evitar esse “problema”: criaram o limite de 200 dólares mensais, que é o máximo de moeda estrangeira que um cidadão argentino pode comprar.

Mas, os argentinos encontraram no mercado negro a forma de dolarizar seu patrimônio. Andando pelas ruas da Calle Florida em Buenos Aires, não faltam os “arbolitos”, que gritam: “câmbio, câmbio”. Eles oferecem aos cidadãos argentinos a possibilidade de comprar o dólar blue, que é simplesmente notas de dólar vendidas em troca de pesos argentinos em espécie. No momento em que eu escrevia esse artigo, a cotação oficial do Banco de la Nación era de 1 dólar igual a 400 pesos argentinos; nas ruas, os arbolitos vendem 1 dólar por 850 pesos. E não faltam argentinos para comprar: mais vale pagar mais caro pelo dólar que mantê-lo em uma moeda que já se desvalorizou pela metade em menos de 1 ano.

Se a Argentina já tivesse adotado o DREX, porém, essa solução não seria mais possível. Com todas as suas transações sendo rastreadas pelo governo, ele poderia impor efetivamente o seu rígido controle de câmbio, e todos os cidadãos estariam à mercê da desvalorização do peso argentino.

Quem tem pena dos nossos hermanos pela sua situação econômica precisa recordar que tais eventos já foram comuns no Brasil: vivemos hiperinflação, confisco de poupança. E, em todos esses cenários, o dinheiro em espécie foi a proteção. Até mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff apresentou R$150 mil em espécie na sua declaração de imposto de renda antes das eleições de 2014. Segundo ela, por ter vivido crises econômicas, ela já aprendeu a ver as notas de reais como uma segurança maior que deixar seu dinheiro no banco.

Se o Brasil adotasse o DREX, realmente você não precisaria de dinheiro em espécie para fazer suas transações do dia a dia. Mas, estaria à mercê das políticas econômicas do governo e nada poderia fazer para proteger seu patrimônio num cenário de hiperinflação e controle de câmbio.

A possibilidade de usar dinheiro em espécie não deve ser vista simplesmente como uma forma de resolver problemas do dia-a-dia, mas também como uma forma de proteger seu patrimônio de políticas cambiais heterodoxas que poderiam ser implementadas mais uma vez em território tupiniquim.

Não precisar de dinheiro em espécie no dia-a-dia não pode ser visto como uma razão para abolir essa modalidade de divisas. O combate ao crime também não pode ser usado como pretexto para deixar os cidadãos de bem presos nas mãos do governo ao sabor de suas políticas econômicas.

E aqui aprendemos a principal diferença entre as moedas digitais de bancos centrais, como o DREX, e as criptomoedas, como o Bitcoin.

O Pix realmente atende a dois objetivos de Satoshi Nakamoto, mas não atende a um deles, que talvez seja o mais importante: a descentralização e a total independência de um governo e um banco central emissor.

O Pix realmente já funciona como um maravilhoso sistema de pagamentos rápido e gratuito. Porém, sua evolução ao DREX pode se tornar um grande problema: o aumento do controle estatal sobre a moeda. É justamente o oposto do que acontece no Bitcoin.

Em vez de um único banco central, existem 11 mil nós espalhados por todo o mundo que são responsáveis pela validação das transações. No Bitcoin, a emissão de novas unidades acontece somente de acordo com as regras previstas pelo código do protocolo, e elas são totalmente públicas. Não existe uma forma de burlar essas regras a não ser que você consiga enganar pelo menos a metade dos nós da rede. E a grande magia: qualquer pessoa pode ser um auditor do Bitcoin. A contabilidade da criptomoeda está aberta e pública, e qualquer um pode auditar.

O Bitcoin elimina a necessidade de confiança. Você pode usá-lo, mesmo que não confie em ninguém na rede, porque, em última análise, tudo é público e tudo pode ser verificado. Por outro lado, o DREX reforça a necessidade de confiança. Viver sem dinheiro em espécie funcionaria bem, se o governo mantivesse uma política econômica saudável. Mas, será mesmo que podemos confiar que as crises econômicas do Brasil foram enterradas em 1994, com a criação do real? Quantas vezes, o Brasil quebrou essa confiança?

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Em 3 de janeiro de 2010, Satoshi Nakamoto, criador do Bitcoin, publicou um artigo em que detalhava os princípios de funcionamento de um dinheiro digital e um sistema de pagamentos online que funcionaria de forma completamente descentralizada e independente de um governo emissor e de um banco central. Esse artigo foi o ponto de partida para o Bitcoin. Ao longo dos anos, a moeda foi apontada como irrelevante, depois como golpe de pirâmide. Muitos especularam que ele desapareceria em 10 anos. Mas, não. Não desapareceu.

Pelo contrário, hoje o conceito de criptomoedas se provou que veio para ficar. O Bitcoin já é a moeda oficial de El Salvador e já é amplamente aceito como meio de pagamento em muitas regiões pobres, como na Nigéria. E hoje até mesmo os governos se mostraram interessados nele. Algumas das principais econômicas do mundo, como Brasil, Estados Unidos e China, discutem a criação de suas próprias CBDC (moedas digitais de bancos centrais).

No Brasil, já existe o esqueleto para a existência de uma CBDC brasileira, que é o Pix. Desde que foi lançado, o sistema de pagamentos criado pelo Banco Central do Brasil se tornou um verdadeiro sucesso. Ao substituir o Ted e o Doc por um método gratuito e bem mais rápido, o Pix reduziu sensivelmente até mesmo o uso de dinheiro em espécie. Antigamente, ainda que a maior parte de suas compras fossem feitas com cartão de crédito, muitas pessoas mantinham o hábito de carregar dinheiro em espécie para pagar pequenas despesas do dia a dia. Mas, hoje, até mesmo os vendedores de rua recebem Pix.

O Pix já atende a dois objetivos de Satoshi Nakamoto: ele é um dinheiro digital e um sistema de pagamentos. Mas, o que falta para que o Pix seja considerado uma verdadeira moeda digital de banco central? E, uma vez completado esse objetivo, o que o diferencia do Bitcoin proposto por Satoshi Nakamoto?

A resposta da primeira pergunta é: a eliminação completa do dinheiro físico. E essa tem sido a curiosa tarefa de diversos governos pelo mundo inteiro: Cuba recentemente impôs um limite de saques diários de 20 dólares às empresas; na Nigéria, o limite é de 45 dólares e se estende para os cidadãos; em alguns países, para resgatar dinheiro físico, só com justificativas plausíveis (no Brasil o limite é de R$ 50.000).

Pense bem: se você já tem o Pix, para que você precisa andar com notas de dinheiro físico em espécie? Dinheiro físico é mais inseguro, você está sujeito a ser roubado, a perder, não é mesmo? Além disso, o dinheiro em espécie é amplamente utilizado por criminosos, pois facilita a lavagem de dinheiro.

São pretextos como esse que os governos utilizam para convencer a população de que não há problemas em usar o dinheiro completamente eletrônico. Porém, a realidade é que o dinheiro digital confere ao governo um poder de controle muito mais amplo sobre seus cidadãos do que o dinheiro físico.

Quando você faz compras no cartão de crédito, elas são registradas no seu CPF. O governo sabe o que você compra. E, da mesma forma, deverá funcionar com o DREX.

Agora, imagine o cenário. Uma pessoa gastadora gasta todos os anos mais do que o que consegue arrecadar. O que aconteceria com ela? Rapidamente faliria, não é verdade?

Mas, e se ela fosse um governo? Um governo não vai falir, porque gastou mais do que o que arrecadou. Nesse caso, o governo sempre cria novas unidades de DREX e deposita na sua própria conta para cobrir suas despesas. E, pela lei da oferta e da demanda, quanto mais DREX existe, menos ela vale. Então, assim o governo desvaloriza o seu dinheiro.

O que impede o governo brasileiro de gerar déficits assombrosos todos os anos e simplesmente criar novos reais? Hoje em dia, é o fato de que as pessoas reagem rapidamente à desvalorização do real: elas vendem reais e compram dólares (ou outra moeda forte) para se proteger. Um patrimônio dolarizado é imune à inflação brasileira.

Alguns países, como a Argentina, tiveram uma sacada brilhante para evitar esse “problema”: criaram o limite de 200 dólares mensais, que é o máximo de moeda estrangeira que um cidadão argentino pode comprar.

Mas, os argentinos encontraram no mercado negro a forma de dolarizar seu patrimônio. Andando pelas ruas da Calle Florida em Buenos Aires, não faltam os “arbolitos”, que gritam: “câmbio, câmbio”. Eles oferecem aos cidadãos argentinos a possibilidade de comprar o dólar blue, que é simplesmente notas de dólar vendidas em troca de pesos argentinos em espécie. No momento em que eu escrevia esse artigo, a cotação oficial do Banco de la Nación era de 1 dólar igual a 400 pesos argentinos; nas ruas, os arbolitos vendem 1 dólar por 850 pesos. E não faltam argentinos para comprar: mais vale pagar mais caro pelo dólar que mantê-lo em uma moeda que já se desvalorizou pela metade em menos de 1 ano.

Se a Argentina já tivesse adotado o DREX, porém, essa solução não seria mais possível. Com todas as suas transações sendo rastreadas pelo governo, ele poderia impor efetivamente o seu rígido controle de câmbio, e todos os cidadãos estariam à mercê da desvalorização do peso argentino.

Quem tem pena dos nossos hermanos pela sua situação econômica precisa recordar que tais eventos já foram comuns no Brasil: vivemos hiperinflação, confisco de poupança. E, em todos esses cenários, o dinheiro em espécie foi a proteção. Até mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff apresentou R$150 mil em espécie na sua declaração de imposto de renda antes das eleições de 2014. Segundo ela, por ter vivido crises econômicas, ela já aprendeu a ver as notas de reais como uma segurança maior que deixar seu dinheiro no banco.

Se o Brasil adotasse o DREX, realmente você não precisaria de dinheiro em espécie para fazer suas transações do dia a dia. Mas, estaria à mercê das políticas econômicas do governo e nada poderia fazer para proteger seu patrimônio num cenário de hiperinflação e controle de câmbio.

A possibilidade de usar dinheiro em espécie não deve ser vista simplesmente como uma forma de resolver problemas do dia-a-dia, mas também como uma forma de proteger seu patrimônio de políticas cambiais heterodoxas que poderiam ser implementadas mais uma vez em território tupiniquim.

Não precisar de dinheiro em espécie no dia-a-dia não pode ser visto como uma razão para abolir essa modalidade de divisas. O combate ao crime também não pode ser usado como pretexto para deixar os cidadãos de bem presos nas mãos do governo ao sabor de suas políticas econômicas.

E aqui aprendemos a principal diferença entre as moedas digitais de bancos centrais, como o DREX, e as criptomoedas, como o Bitcoin.

O Pix realmente atende a dois objetivos de Satoshi Nakamoto, mas não atende a um deles, que talvez seja o mais importante: a descentralização e a total independência de um governo e um banco central emissor.

O Pix realmente já funciona como um maravilhoso sistema de pagamentos rápido e gratuito. Porém, sua evolução ao DREX pode se tornar um grande problema: o aumento do controle estatal sobre a moeda. É justamente o oposto do que acontece no Bitcoin.

Em vez de um único banco central, existem 11 mil nós espalhados por todo o mundo que são responsáveis pela validação das transações. No Bitcoin, a emissão de novas unidades acontece somente de acordo com as regras previstas pelo código do protocolo, e elas são totalmente públicas. Não existe uma forma de burlar essas regras a não ser que você consiga enganar pelo menos a metade dos nós da rede. E a grande magia: qualquer pessoa pode ser um auditor do Bitcoin. A contabilidade da criptomoeda está aberta e pública, e qualquer um pode auditar.

O Bitcoin elimina a necessidade de confiança. Você pode usá-lo, mesmo que não confie em ninguém na rede, porque, em última análise, tudo é público e tudo pode ser verificado. Por outro lado, o DREX reforça a necessidade de confiança. Viver sem dinheiro em espécie funcionaria bem, se o governo mantivesse uma política econômica saudável. Mas, será mesmo que podemos confiar que as crises econômicas do Brasil foram enterradas em 1994, com a criação do real? Quantas vezes, o Brasil quebrou essa confiança?

Thiago Cardoso

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